Categories: Sem categoria

Os Cátaros

Os Cátaros

 Há oito séculos os Cátaros (heréticos cristãos medievais) abalaram os alicerces da Igreja Católica.

Rejeitando o Antigo Testamento, a autoridade do Papa e da Igreja Católica, o Catarismo, religião dissidente agitou o sudoeste da França até meados do século XIII. Cercos, guerras e inquietações na região de Toulouse Pireneus.

Intitulavam-se apenas bons cristãos ou bons homens e, destituídos de posses, corriam o país pregando a mensagem do Cristo curando corpos e almas, como aliás fizeram os primitivos cristãos.

A perseguição movida pelo Vaticano contra este pacífico grupo conta-se como uma das mais cruéis da história da humanidade, quando milhares de pessoas foram levadas à fogueira, apesar de crerem no mesmo Deus e seguirem o mesmo livro sagrado dos seus perseguidores, tendo por único crime buscarem o sentido original da mensagem do Cristo.

Ecos de suas ideias ainda podem ser ouvidos nas cidades e castelos em que viveram ao longo da “Rota dos Castelos Cátaros”, um super itinerário do turismo cultural na região do Languedoc- Roussillon, sul da França.

Nas cidades do sul deste país cada pedra parece estar ligada a importantes acontecimentos da história. Praticamente todos os principais centros da região, Montpellier, Albi, Narbonne, Carcassonne e Béziers já existiam nos tempos dos Romanos. Na Idade Média, entre os séculos XII e XIII eles foram polos vitais de um importante movimento herético medieval conhecido como Catarismo.

Até hoje, meta de peregrinações religiosas e culturais, o Languedoc- Roussillon oferece grande variedade de roteiros para quem deseja visitar seus castelos, catedrais, fortalezas e museus, dentro do espírito que caracteriza a tradição cátara.

Os guias turísticos locais costumam ser muito bem-preparados e tornam-se verdadeiros professores de história quando solicitados para falar dos cátaros.

A região toda possui excelente infraestrutura para o turismo, seja nos transportes, na hotelaria ou na gastronomia. Esta última, por sinal, é considerada uma das melhores e mais refinadas de toda a França. Vários restaurantes da região são estrelados pelo Guia Michelin, a Bíblia da Gastronomia.

Na região ninguém precisa se preocupar com a infraestrutura hoteleira e transportes ao percorrer a Rota dos Castelos Tártaros.  O Catarismo é uma das mais importantes heresias que sacudiram o mundo Cristão a partir do século XII.

A heresia teve grande adesão de fiéis entre as camadas populares, principalmente entre artesãos e comerciantes, entretanto, também converteu membros da nobreza francesa.

A difusão do Catarismo por essas regiões foi tão grande que a Igreja católica convocou uma Cruzada para perseguir seus seguidores e interromper o crescimento da heresia.

Os Cátaros são também conhecidos como Albigenses, em referência à cidade francesa de Albi, um dos principais centros de difusão do Catarismo.

 

Origem do Catarismo

O Catarismo foi uma doutrina herégica originada na França, no século XI, porém, foi somente a partir de 1140 que esta heresia ganhou força na Europa.

Considerado o maior movimento herético da época, o Catarismo foi herdeiro de doutrinas gnósticas que defendiam uma visão dualista do mundo.

De acordo com o Catarismo, o dualismo manifesta-se da seguinte maneira: os Cátaros acreditavam que a bondade existia somente no mundo espiritual e que o mundo material era maligno por essência.

Ainda nessa concepção, o mundo era a criação de um deus mau ou Satã.

Os Cátaros acreditavam que o mundo material era mau por ter sido criado por Satã. Sendo assim todos os que habitavam neste mundo deveriam ser restaurados por meio da penitência e comunhão com Deus. Além disso acreditavam que o homem encarnava na forma humana ou animal até que sua alma encontrasse a redenção, que acontecia após o batismo, num ritual chamado consolamentum.

A doutrina Cátara distinguia dois tipos de fiéis: os Perfeitos e os Crentes. Os Perfeitos eram as pessoas que já haviam encontrado a redenção e que levavam a vida de ascetismo (penitência). Eram os líderes espirituais. Para isto os Perfeitos abstinham-se de alimentos de origem animal como a carne vermelha, ovos, leite e praticavam a castidade. Isso porque os Cátaros condenavam a procriação e o casamento, considerado malignos e tachados como obra de Satã.

Estas leis geravam muitos problemas no âmbito social. Mulheres e maridos abandonavam as famílias para ingressar nas comunidades dos cátaros. E ainda, como a castidade absoluta era um empenho que pouquíssimos conseguiam manter, na vida cotidiana as pessoas acabavam vivendo ligações provisórias e não oficiais que podiam se romper a qualquer momento para dar lugar a casais diversos. Em lugar do casamento tolerava-se o concubinato e o Amor Livre.

Os Crentes  (os bons homens) não possuíam as mesmas restrições que os Perfeitos, porém deveriam demostrar respeito sempre que estivessem em presença de um Perfeito.

O Catarismo estipulava que os Crentes deveriam confessar seus pecados aos Perfeitos, em um ritual chamado de “apareliamentum”. Essa confissão pública dos pecados aos Perfeitos, no entanto, não era obrigatória.

Para os Cátaros, a alma humana era, na verdade, um anjo que havia sido aprisionado pelo deus mau em um corpo humano. Assim a cada nascimento, acreditavam que um novo anjo havia sido aprisionado. Por causa desta crença, os Cátaros condenavam o casamento e a procriação humana.

Além disso negavam que Cristo compartilhasse da mesma substância do Pai e consideravam-no apenas um anjo que se voluntariou para salvar os homens.

Os Cátaros, traduzido do latim significava puros, tal qual os agnósticos, acreditavam que Jesus nunca fora um verdadeiro homem de carne e sangue, mas sim, um anjo, uma criatura espiritual vinda a Terra para ensinar aos homens o caminho da salvação.

O mundo e a carne dos homens para eles seriam a criação de um anjo malvado que quis aprisionar as almas dentro de um pesado fardo material, cheio de vícios e pecados: o corpo. Cristo, mensageiro de Deus, não podia ter um corpo porque era privado do pecado. Segundo os Cátaros Ele nunca sofrera a Paixão, nem morrera.

Os Cátaros afirmavam também que o deus bom triunfará no final dos tempos sobre o deus mau, e assim, todas as almas serão salvas definitivamente.

Havia uma divisão muito clara entre carne e espírito. Carne: tudo o que é matéria é mau. Espírito: vem de Deus, então é bom.

Os cátaros acreditavam que o espírito não tem sexo, o espírito é como um anjo.

Homens e mulheres tinham o mesmo peso, elas eram aceitas nas cerimônias e tinham um papel importante no Catarismo. Este era atraente principalmente para as mulheres pelo fato de serem aceitas nas cerimônias. Não havia analfabetos entre eles, as mulheres também aprendiam a ler, pregavam a palavra de Jesus e tinham grande conhecimento de plantas e de ervas curativas. Andavam de duas em duas, de aldeia em aldeia ensinando as pessoas a plantar, a curar através das ervas, levando também uma palavra consoladora, entendendo os pobres e sua miséria humana.

Os cátaros eram vegetarianos, não pegavam em armas e buscavam o amor ao próximo. Não matavam humanos nem animais. Seus valores eram bem altos.

No século XIII, começou em Toulouse a chamada Santa Inquisição por causa dos cátaros, os quais sofreram 30 anos de perseguição. Eles eram as vítimas desta  Inquisição.

A Igreja Católica começou a perder para os Cátaros, que não pagavam mais o dízimo, estes contrastavam com a riqueza dela. As mulheres eram acolhidas e davam exemplo de vida. Também o evangelho era seguido na prática.

O que deixava os Católicos muito irritados é o abandono dos Cátaros aos 7 sacramentos: Batismo, Eucaristia, Crisma ou Confirmação, Matrimônio, Ordem, Confissão e Unção dos enfermos, que são para os católicos uma nova condição de se aproximar mais de Deus. Nisto os Cátaros não acreditavam pois os sacramentos estão ligados à matéria.

Catarismo no sul da França e norte da Itália.

 A Igreja Cátara desenvolveu-se e estabeleceu autoridades eclesiásticas como bispos. Além disto grandes igrejas dessa doutrina foram construídas em Albi.

Cruzada contra os Albigenses

A medida em que essa heresia crescia na França e na Itália, a Igreja Católica se mobilizava para erradicá-la. Assim a luta na Igreja contra o Catarismo, distingue-se em dois momentos:

  • Cruzada espiritual (1147-1209)
  • Cruzada albigense (1209 -1229)

A cruzada espiritual foi o período em que a Igreja combateu o Catarismo por meio de ações pacíficas, como pregações, exortações e excomunhões. A primeira ação da Igreja contra essa heresia foi tomada pelo papa Calixto II, no Concílio de Toulouse em 1119. Posteriormente uma série de padres proeminentes da   Igreja Católica, foi enviada para a região, entre eles São Bernardo de Clairvaux, mais conhecido como São Bernardo, possivelmente a mais lúcida e brilhante inteligência católica da Idade Média

Já a Cruzada albigense foi determinada pelo Papa Inocêncio III em 1209 após o emissário papal Pedro de Castelnau ter sido assassinado em 1208, supostamente por um nobre Cátaro chamado Raimundo IV. Em razão disso, foram convocados os exércitos dos nobres cristãos para lutarem contra os Cátaros.

A luta no sul da França estendeu-se por 20 anos e foi marcada pela extrema violência dos combates. Como foi demonstrado na destruição de Béziers em 1209. Ao longo desses 20 anos, grandes centros Cátaros foram atacados e as batalhas foram vencidas ora pelas tropas católicas, ora pelos Cátaros.

Em 1229 foi assinado um acordo de paz entre Cátaros e Católicos, no qual os nobres heréticos submeteram-se às autoridades Católicas.

Apesar de enfraquecido o Catarismo continuou existindo na região e sendo constantemente alvo dos inquisidores.

A partir do reinado de Felipe, o Belo, os seguidores da doutrina herética sofreram forte perseguição, o que teria levado ao desaparecimento dessa heresia, na França do século XIV.

Há pessoas que gostam de fazer a rota dos vinhos, outras preferem as dos castelos.

A cruz Cátara

A Cruz Occitana da Langue D ‘Oc é um símbolo heráldico dos Cátaros (puros), Cruz de Toulouse ou Cruz Forcalquier. Representa o ciclo solar das doze horas do dia, 12 apóstolos de Cristo, 12 signos zodiacais, 12 tribos de Israel, 12 cavaleiros da távola redonda de Merlin e Rei Arthur, 12 pares de França com a espada Durandal de Rolando, etc.

 

Nota: Na próxima semana continuarei com o texto, abordando os castelos Cátaros.

Helena Landell

Share
Published by
Helena Landell

Recent Posts

Le Marché aux Puces

Le Marché aux Puces (O mercado das pulgas) Le Marché aux Puces, ou Mercado das…

3 dias ago

Torre Saint Jacques

Torre Saint Jacques  É uma Torre com muita história para contar! A Torre Saint Jacques…

1 semana ago

As Igrejas mais bonitas de Paris

As Igrejas mais bonitas de Paris A Capital francesa está repleta de edifícios religiosos importantes.…

1 mês ago

Basílica de Saint Denis

Basílica de Saint Denis                    A Basílica…

1 mês ago

La Conciergerie

La Conciergerie            Construído como residência real e sede do poder…

2 meses ago

Les Ponts de Paris

Les Ponts de Paris               Paris tem 37 pontes sobre…

2 meses ago