Josephine Backer
Josephine Backer é o nome artístico de Freda Josephine McDonalds, cantora e dançarina norte-americana, naturalizada francesa em 1937 e conhecida pelos apelidos de Venus Negra, Pérola Negra e ainda, Deusa Crioula.
Nasceu no dia 3 de junho de 1906 em Saint Luís, Missouri, nos Estados Unidos. Faleceu em Paris, no dia 12 de abril de 1975.
Vedete do Teatro de Revista, Josephine Backer é, geralmente, considerada como a primeira estrela negra das artes cênicas.
Figura eminente da Resistência Francesa, antinazista, Backer foi a pessoa negra e a 6ª mulher a ser sepultada no Panteão, em Paris.
Biografia
Josephine Backer nasceu de uma família extremamente pobre, filha mais velha de Carrie MacDonald, seu pai é incerto. Alguns biógrafos afirmam que seu pai teria sido um vendedor ambulante de joias. Cresceu em uma época altamente racista.
Efetivamente, ela era fruto de grande miscigenação racial, além da herança negra de escravizados da Carolina do Sul, também a herança genética de índios americanos apaches.
Aos 13 anos de idade, já estava casada, como era comum, na época. Porém o casamento durou menos que um ano.
Trabalhava em casas de família, onde sofria inúmeras violências. Foi neste período que ela se uniu aos artistas de rua, a fim de ganhar algum dinheiro. Começou a dançar e, segundo ela própria, para se manter aquecida. Chegou até viajar pelo país. Nesta ocasião conheceu uma pessoa e se casou aos 14 anos.
Viveu e sentiu na pele a violência racial, enfrentando abusos e perseguições, apenas por causa da cor da sua pele.
Como no início ela não sabia dançar direito, Josephine improvisava no meio do show, fazia movimentos de comédia, movimentos engraçados ou bobos, os quais poderiam ser muito ruins e que acabou se tornando um diferencial.
Josephine dançando, ainda jovem
Ela ficou popular e ganhou apresentações pela Broadway, onde por um tempo foi a atriz melhor paga do Teatro de Revistas e que chamou a atenção da socialite Caroline Reagan.
Caroline tinha planos de levar para Paris um pouco da autêntica cultura negra americana. E foi assim que Josephine largou tudo. A única coisa que levou foi o sobrenome de seu marido Backer, antes de partir para a Europa em 1925.
Nesta época, Josephine Backer era, de longe, a dançarina americana mais famosa e influente em Paris. No Teatro des Champs-Élysées, fez imediato sucesso com sua dança erótica, aparecendo em cena, praticamente, nua. Suas apresentações ficaram memoráveis, dentre elas, uma em que vestia uma saia enfeitada de bananas.
Graças ao sucesso da sua temporada europeia, rompeu o contrato e voltou para a França, tornando-se estrela do Folies Bergère.
Folies Bergère em Paris
Por suas atrações no Teatro de Revistas, foi contemporânea da grande vedete francesa Mistinguett. O charme desta última, estava em sugerir a nudez. Na verdade, eram formas de Arte diferentes, Mistinguett era mais eslitista, enquanto Josephine era mais popular.
Josephine e de Mistinguett
Picasso chegou a pintar quadros, elogiando sua beleza.
Em 1937, casou-se com um industrial francês e através do qual, obteve a cidadania francesa.
Em 1939, quando a Segunda Guerra Mundial começou, Josephine Backer, era uma mulher rica e uma das artistas mais famosas da Europa, com contratos milionários e uma vida estável e bastante confortável.
Porém, no final daquele ano, após a esmagadora vitória alemã sobre a Polônia e diante da eminente invasão da França pelos exércitos de Hitler, ela decidiu aceitar uma proposta inusitada, feita pela Segunda Agência, o nome dos serviços secretos franceses da época, decidindo atuar como espiã.
Segunda Guerra Mundial
Em junho de 1940, Josephine tinha 2 opções: seguir com a sua vida de glamour e de ostentação, apresentando-se pelos palcos de uma Europa ocupada pelo nazismo, ou seguir a carreira de espiã, expondo-se a riscos e à morte certa, caso fosse capturada.
Decidiu entrar para a Resistência Francesa trabalhando diretamente com o oficial Jacques Habité, oficial do Serviço de Inteligência e de contraespionagem da Resistência Francesa.
O trabalho da artista era de se misturar em festas promovidas por oficiais e diplomatas alemães em Paris, Roma e Berlim. Nestes locais, em meio a coquetéis e shows, obtinha sensíveis informações de altas figuras nazistas e fascistas. Como era uma artista, podia viajar livremente pelo mundo, entrando e saindo de países, transportando, em suas viagens, centenas de páginas com informações altamente secretas.
Graças ao seu charme e poder de sedução e persuasão, Josephine conseguia obter informações como a localização de pistas de pouso, a concentração e a movimentação de tropas dentro e fora da França, chegando mesmo a obter o itinerário com as datas e horas, em que os submarinos alemães chegavam e partiam de suas bases na Costa Francesa.
No final de 1941, recebeu da Resistência Francesa a missão de seguir para as Colônias Francesas no norte da África, oficialmente a desculpa para essa viagem, era a sua saúde comprometida, após uma pneumonia, porém, a sua real missão era de se infiltrar nas esferas francesas e espanholas a fim de obter o máximo de informações, as quais seriam usadas para a invasão aliada no norte da África, a chamada Operação Tocha, de novembro de 1942.
Operação Tocha na África em 1942
Mais uma vez Josephine usando de toda sua fama e charme, frequentando festas badaladas em clubes de luxo e em Embaixadas, obteve centenas de páginas de informações secretas, as quais ela escondia dentro de sua roupa interior.
Após a libertação no norte da África, Josephine insistiu em permanecer na região para oferecer entretenimento às tropas da França livre, proporcionando, até 5 apresentações por dia, aos soldados que lutavam contra os alemães no norte da África.
Devido aos rigores do clima, das desgastantes viagens, ficou muito doente, chegando a desenvolver uma peritonite grave, que quase a matou.
Seu papel como espiã, só foi revelado após o fim da Guerra, sendo Josephine elevada à posição de heroína francesa.
Depois da Guerra foi condecorada com a Cruz da Guerra das Forças Armadas Francesas e a Medalha da Resistência.
Condecoração com a Cruz Da guerra
Também recebeu do Presidente Charles de Gaulle, o grau de Cavaleiro da Legião de Honra.
Apesar de ser admirada e profundamente respeitada na França, nos Estados Unidos era perseguida e acuada pela segregação racial.
Por exemplo, em 1951 em visita a Nova York, 36 hotéis recusaram hospedá-la, apenas por ser negra, já que na época, vigoravam regras rígidas de segregação racial.
Mesmo diante de contratos milionários, recusava a dar concertos para plateias segregadas. E foi graças a isto, que se realizou em Las Vegas, nos anos 50, o primeiro show não segregado dos Estados Unidos.
Nos anos 1950, usou sua grande popularidade na luta contra o racismo e pela emancipação dos negros, apoiando o Movimento dos Direitos Civis de Martin Luther King. Trabalhou também na National Association for the Advancement of Colored People (NAACP).
Martin Luther King
Adotou 12 órfãos de várias etnias, aos quais chamava “tribo arco-íris”. Eram eles:
- Janot- coreano
- Akio- japonês
- Luís- colombiano
- Jari- finlandês
- Jean-Claude- canadense
- Moïse- judeu francês
- Brahin- argelino
- Marianne- francesa
- Koffi- costa -marfinense
- Mara- venezuelana
- Noël- francês
- Stellina- marroquina
12 filhos adotados
Possuía um leopardo de estimação cujo nome era Chiquita!
Chiquita (leopardo)
No final de sua vida enfrentou graves problemas financeiros, sendo auxiliada por personalidades como Grace Kelly, na época Rainha de Mônaco.
Grace Kelly – RAINHA
Morreu no dia 12 de abril do ano de 1975, após uma hemorragia cerebral, recebendo no seu funeral mais de 20.000 pessoas, sendo enterrada com honras completas, no cemitério de Mônaco.
Enterro
No dia 30 de novembro de 2021, entrou para o Panthéon, em Paris, a primeira mulher negra a receber esta honraria.
Panthéon
Josephine Backer é mais do que uma artista, espiã e heroína de guerra, é um exemplo de ser humano!