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A presença francesa no Brasil

A presença francesa no Brasil

 

O descobridor Villegaignon

Não fossem os 55 anos de distância entre a descoberta do Brasil pelo português Pedro Álvares Cabral e a tentativa de colonização do país pelo almirante francês Nicolas Durand de Villegaignon, o Brasil de hoje talvez pudesse ser chamado Brésil.

Em 22 de abril de 1500, 13 caravelas portuguesas desembarcaram em uma terra habitada por índios e repleta de histórias fantasiosas para aqueles que vivem do outro lado do Atlântico.

 

Os interesses econômicos e a vontade de desbravar novas regiões lançam diversas navegações ao mar. Todas buscam terras dos sonhos, lugares inimagináveis, riquezas impensáveis. A ambição dos portugueses é tamanha que eles modificam o Tratado das Tordesilhas inúmeras vezes. Assinado seis anos antes do descobrimento do Brasil, ele é contestado pela França, Holanda e Inglaterra deixadas de fora do acordo. O acordo estabelece que todos os mares e terras encontrados a leste de uma linha imaginária, determinada pelos dois países (Espanha e Portugal) serão dos portugueses e a do lado oeste, dos espanhóis. A decisão é extremamente benéfica a Portugal, que algum tempo antes começa a se apossar do litoral Atlântico da África, região que faz parte de suas explorações.

Portugal descobre o Brasil em 1500, mas não avança no processo de colonização. Nas décadas seguintes, a presença constante dos franceses no litoral brasileiro, que perdura pelo século XVI, é vista não só como uma preocupação, mas como uma afronta. Não fosse essa ameaça, a coroa portuguesa não teria enviado para a terra descoberta a expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza e seu irmão Pedro Lopes de Souza, em 1530.

Martim Afonso de Souza

Eles desembarcam em terras brasileiras com cinco navios e 400 homens para afugentar os franceses que rondam o sul e as cercanias do Rio de Janeiro.

Possuem também como tarefa explorar a costa brasileira e formar núcleos de colonização.

                                 

                                                                                                                             Mapa da Baía da Guanabara

O grande interesse dos europeus pelo Brasil deve-se à arvore nativa pau-brasil. Tão ou mais valiosa que as especiarias da Índia, possui uma substância vermelha capaz de tingir tecidos. Tal propriedade confere grande valor comercial à árvore. Embora a Itália já produza tecidos coloridos desde o século XIV, a tinta advinda do pau-brasil adquire extremo valor no século XVI, pois a informação da existência da árvore vem à tona no momento em que os portos franceses da Normandia, como os de Rouen e Dieppe, trabalham a todo vapor em torno da florescente indústria têxtil.

                                

Fotos da árvore pau-brasil

A planta nativa do Brasil não só é convidativa por seu valor comercial como também apresenta fácil extração, sobretudo por ser encontrada próxima à costa. Estima-se que, na época do descobrimento, a colônia reúna mais de 70 milhões de árvores de pau-brasil, ocupando uma faixa de até 20 quilômetros de largura do litoral do Rio Grande do Norte até a Baía de Guanabara. É assim que o escambo se transforma em uma prática comum em terras brasileiras.

Em troca de bugigangas como espelhos, panos, enfeites, machados e facões, os índios extraem, cortam, talham e carregam toras de madeira para as caravelas.

Em desacordo com o Tratado de Tordesilhas, a França começa passa a promover expedições frequentes rumo ao Brasil.

A primeira viagem data de 1503, um ano depois, o mercador francês Binot Paulmier de Gonneville, a bordo da nau L´Espoir, aporta na costa brasileira, onde hoje é São Francisco do Sul, em Santa Catarina, com uma tripulação de 60 homens. Nos porões da embarcação, ele traz várias quinquilharias.

Binot Paulmier de Gonneviller

Mas não são apenas histórias mirabolantes que retornam para a França.

Além de muitas embarcações de pau-brasil, Gonneville leva consigo o “príncipe brasileiro, um índio chamado Iça Mirim, então com 14 anos de idade, para ensinar-lhe a arte da artilharia e mostrar-lhe a vida entre cristãos.

Tal façanha só foi possível porque o mercador faz amizade com seu pai, o cacique tupinambá Arosca, para quem promete que ao cabo de 20 luas mandará seu filho de volta. A promessa, no entanto, jamais será cumprida.

Iça Mirim foi educado na França, casou-se com Suzane, uma das filhas do Capitão Binot Paulmier, com a condição de que os descendentes do casal usassem o nome e o brasão de armas da tradicional família francesa. Tal união iniciará uma linhagem de franco-brasileiros. Iça Mirim também chamado Essomericq ou Binot entre os franceses, nunca mais retornou ao Brasil, mas tornou-se um homem de grande importância e cultura, tendo recebido o título de Barão.

Faleceu aos 96 anos de idade.

Foto de Tesouro vermelho

Com o tempo, todos passam a se interessar pelo Brasil Colônia, não para povoar, mas para enriquecer. Nem mesmo os portugueses pensam seriamente em se fixar. As árvores são derrubadas e levadas para a Europa em larga escala.

 

Índios do Brasil

Os índios, desgostosos com o tratamento escravo a que são submetidos, ajudam os franceses, os rivais dos portugueses, a carregar suas embarcações com pau-brasil.

Em pouco tempo, os habitantes indígenas do litoral brasileiro e os franceses estabelecem uma relação amistosa que se prolonga até o início do século XVII. A “amizade” permite que, cada vez mais, piratas e navegadores europeus se apossem da matéria prima reivindicada por Portugal.

Em 1531, dois navios franceses advindos de Marselha e carregando 120 homens, 18 canhões, munição e material de construção aportam na costa brasileira.

Eles são comandados por Jean Dupéret, um comerciante de Lyon interessado em pau-brasil que ataca e destrói a Feitoria Régia, erguida próxima ao porto de Pernambuco. Feito isso, eles constroem uma nova fortaleza. O local

escolhido é a ilha de Itamaracá, próxima ao Recife e rebatizada de Ile Saint Alexis.

No mesmo ano, os navios franceses partem rumo a Marselha, deixando a nova fortificação protegida por 70 homens.

No caminho de volta, são atacados pelos portugueses, que apreendem todas as mercadorias de seus porões: cerca de 300 toneladas de pau-brasil, 3 mil peles de onça, 600 papagaios, óleos medicinais, entre outras riquezas. Na sequência, sitiam o forte em um combate que dura 18 dias até a rendição dos franceses.

Mesmo assim, as tentativas de fixação no Brasil não cessam. A França não só é contrária ao Tratado de Tordesilhas como também se posiciona a favor do direito à posse da terra por quem primeiro a ocupar.

No verão de 1554, sob a proteção de Henrique II , Villegaigon, vice-almirante da Bretanha e cavaleiro da Ordem de Malta, faz uma visita secreta à região de Cabo Frio , na Costa brasileira . Ali, ele colhe uma série de informações sobre os hábitos dos portugueses com os índios tamoios.  São dados essenciais ao plano futuro de lançar uma expedição rumo ao Brasil. Muito esperto, Villegaigon escolhe propositalmente uma região inabitada pelos portugueses em decorrência da hospitalidade dos habitantes indígenas: a Baía de Guanabara. Seu intuito é criar uma poderosa base militar e naval no lugar, de onde a coroa francesa poderá controlar o comércio com as Índias.

Foto da Baía de Guanabara

Conta a história que a missão rumo ao Brasil é feita com parcos recursos – apenas 10 mil libras- e que o almirante tem sérias dificuldades para recrutar voluntários. Sem opções, Villegaignon percorre as prisões da região norte da França, prometendo liberdade a quem se juntar ao grupo.

Helena Landell

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