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A presença francesa no Brasil

A presença francesa no Brasil

Coligny     

Para não despertar a atenção do Ministro de Portugal na França, Villegaignon espalha a notícia de que a expedição se instalará na costa da Guiné. Entre 10 a 15 de novembro-não se sabe ao certo o dia – 3 navios franceses com 600 marinheiros e colonos, aventureiros e calvinistas perseguidos pelos católicos, aportam na ilha deserta de Serigipe (que hoje leva o nome de Villegaignon, em homenagem ao seu primeiro ocupante), na Baia de Guanabara.

Costa da Guiné

Ilha de Serigipe hoje Villegaignon

Com integrantes da Bretanha e da Normandia, a expedição tem entre os objetivos garantir a exploração do pau-brasil no litoral sul brasileiro e instalar uma comunidade onde os protestantes possam exercer sua religião livremente.

A tentativa de fixação resulta na construção do Forte de Coligny, em 1555, no Rio de Janeiro, dando origem à chamada França Antártica.

Os franceses acabam por desenvolver uma relação de interesse com os índios tupinambás, que são contra a escravidão promovida pelos portugueses.

Villegaignon

A colônia nunca chega a se desenvolver, face à rígida atitude de Villegaignon, que paralisa o crescimento do núcleo.  Em decorrência disso, a maioria dos colonos abandona o Forte e resolve viver com os índios. Entre eles, alguns huguenotes (nome dado aos protestantes franceses), retornam ao seu país e denunciam as práticas do Almirante. Com isso, quase 1000 colonos abortam sua vinda ao Brasil.

Durante o verão de 1555 e 1556, o frade franciscano, explorador e cosmógrafo francês André Thevet passa 10 semanas na Guanabara. Em sua estadia, ele escreve sobre os índios com base em depoimentos de franceses que se encontram no país.

Em seu retorno à França, Thevet leva informações valiosas para a Corte e faz relatos fantasiosos em sua obra “Les singulariétés de la France Antarctique”, de 1557. No mesmo ano, um jovem artesão – sapateiro e estudante de teologia calvinista Jean de Léry desembarca

 

Jean de Léry

em terras brasileiras acompanhado de 14 protestantes para ajudar na consolidação da Colônia francesa no Rio.

Jean de Léry, pastor missionário e escritor francês, membro da igreja reformada de Genebra durante a fase inicial da Reforma Calvinista.

Nessa época, a Baia de Guanabara serve como sonho de refúgio para protestantes cada vez mais perseguidos na França, um país de maioria católica.

Após viver um ano no Brasil e desenvolver uma relação amistosa com os tupinambás, Lévy documenta suas impressões na obra ”Histoire  d´um Voyage fait em terre du Brésil autrement dite Américque”, de 1578. No livro, ele revela a incompreensão dos nativos em relação à necessidade de acumulação de bens por parte dos colonizadores.

Os relatos dos dois franceses são fundamentais para o conhecimento dos povos indígenas que habitam especialmente a costa brasileira, chamados genericamente de tupis.

Em 1558, Villegaignon retorna à França, deixando o comando da colônia a seu sobrinho Boris-le-Comte. Decididos a pôr fim à presença francesa em terras brasileiras, os portugueses armam uma expedição para expulsar os invasores. Esse se transforma no principal desabafo de Mem de Sá, terceiro governador geral do Brasil.

Mem de Sá

Em 1560, tropas portuguesas vindas da Capitania de São Vicente e comandadas por ele desembarcaram na ilha. Dois dias depois, os franceses são expulsos do forte – que é destruído – e procuram refúgio com os índios tamoios.

No mesmo mês, sacerdotes portugueses celebram a primeira missa no lugar.

Primeira missa no Brasil

Os jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega conseguem, em 1563, pôr fim à inimizade entre os tamoios e os portugueses promovendo a chamada Paz de Iperoig. Em 1565, Estácio de Sá, sobrinho de Mem de Sá, funda a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro que passa a funcionar como base de operações contra os franceses, que não deixam a região com facilidade e cuja expulsão só acontece tempos mais tarde, com a ajuda de tropas de São Vicente.

A batalha final ocorre em 20 de janeiro de 1567, no Outeiro da Glória.

Os portugueses vencem, mas sofrem grande baixa. Estácio de Sá é ferido no rosto com uma flecha envenenada e morre dias depois.

A segunda tentativa francesa de fixação no Brasil recebe o nome de Ipiapaba- Ceará (1590-1604) .

Em 1590, sob o comando de Adolf Montbille, um grupo se estabelece em Ipiapaba (Viçosa-Ceará) onde passa a comercializar pau-brasil com os índios tabajaras.

Tudo segue bem até 1604, ano em que a expedição portuguesa chefiada por Pero Coelho ataca a colônia. Depois de uma batalha violenta, os franceses mais uma vez se rendem.

A França Equinocial

Desde o final do século XVI, os franceses frequentam o litoral do nordeste brasileiro.

Pioneiro, Jacques Riffault, corsário e contrabandista de pau-brasil, conhece profundamente a região e os índios tupinambás. Com ele, vem para o país Charles des Vaux. Ambos se estabelecem no Maranhão, criando uma base comercial na Ilha Grande ou Ilha do Maranhão .

Com isso eles convencem a Corte francesa a estabelecer uma colônia na região.

Em 1612, eles fundam São Luís do Maranhão, dando origem à França Equinocial. Apesar das duas tentativas anteriores fracassarem, as vantagens da colonização do território brasileiro mostram-se grandes o suficiente para que os franceses tracem uma terceira estratégia de fixação.

Tendo como objetivo a conquista do norte do país, Daniel de La Touche, o senhor de la Ravardière organiza uma expedição rumo à região.

A nova tentativa recebe o apoio de grandes nomes da Corte. Sob a benção da regente do reino, Maria de Médicis, o grupo parte da Bretanha com a missão de fundar a França Equinocial e a cidade de São Luís do Maranhão, uma homenagem ao rei Luís XIII, na época com 11 anos de idade e ao patrono do país, o rei Santo  Luís IX.

Os que chegam estabelecem relações amistosas com os tupinambás, diferentemente dos portugueses. Conhecendo o ódio que muitos indígenas nutrem pelos portugueses, os franceses armam um plano: libertar aqueles que foram escravizados, para depois encantá-los com tecidos e quinquilharias.

Esse bom tratamento visa obter dos nativos a imprescindível ajuda na descoberta de jazidas de pedras preciosas.

O missionário d´Abbeville passa quatro meses com os tupinambás no Maranhão. Seu livro “Histoire de la mission de Pères Capucinos em Isle de Maragnan et terres circonvoisines”,  publicado em Paris em 1614 é considerado uma das mais importantes fontes da etnografia dos tupis. Na obra ele registra o nome de cerca de 30 estrelas e constelações conhecidas pelos índios da ilha. Há várias viagens entre o Brasil e a França. Normalmente os franceses retornam ao seu país de origem a fim de buscar reforços.

Diante da movimentação de tantos navios estrangeiros na região, os portugueses decidem adotar táticas mais agressivas como a construção de fortes em pontos diferentes para controlar a costa brasileira e terminar de vez com o comércio ilegal.

Há várias lutas entre franceses e portugueses, mas o sonho francês termina quando uma frota comandada por Alexandre de Moura, então líder do exército português, termina com o sonho francês no Maranhão.

A rendição do forte de São Luís culmina com o fim da França Equinocial. No entanto, o nome de São Luís do Maranhão permanece até os dias de hoje.

Depois do pau-brasil, o velho mundo descobre que a grande riqueza do Brasil está escondida em um metal brilhante, amarelo e pesado: o ouro, encontrado em abundância na região de Minas Gerais .

A primeira incursão francesa no local inicia-se ainda no período colonial, com a participação de Ambroise Jauffret, natural de Marselha. Ele chega ao Brasil aos 17 anos de idade e, desde então, escuta histórias sobre descobertas de ouro no país.

Em junho de 1704, Jauffret envia ao primeiro ministro da França, através de um Conde, descrições minuciosas referente às incursões dos paulistas pelo interior de Minas Gerais.

No texto, o francês fornece ainda os lugares exatos onde o metal é encontrado, indica os caminhos do litoral até às minas de ouro e as técnicas de mineração.

Há quem acredite existir uma relação direta entre as informações de Jauffret e a invasão do Rio de Janeiro em 1710, cujo intuito seria conquistar o controle sobre o principal porto de acesso às Minas Gerais.

Uma outra riqueza do país é o cacau. Em 1754, foram trazidas as primeiras sementes do Pará para Ilhéus na Bahia, pelo colono francês Louis Frédéric Warneaux e plantadas na fazenda Cubículo às margens do Rio Pardo, hoje município de Canavieiras. O cacau traz riqueza e desenvolvimento para Ilhéus que, em 1881, é elevada à categoria de cidade pelo Marquês de Paranaguá.

Ao término destas duas publicações da Presença Francesa no Brasil, espero ter contribuído para um maior conhecimento de meus leitores.

Helena Landell

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